
Os termos equidade e igualdade são comumente usados como sinônimos, mas possuem significados distintos. Essa confusão geralmente ocorre em debates sobre direitos, oportunidades e justiça social, podendo influenciar a forma como essas questões são abordadas na sociedade.
Muitas decisões importantes são tomadas com base apenas na ideia de igualdade, sem considerar se essa abordagem realmente resolve os problemas enfrentados por diferentes grupos. Dependendo da situação, oferecer as mesmas oportunidades pode não levar aos resultados esperados, exigindo, assim, uma análise mais profunda das necessidades de cada indivíduo.
Para acabar de vez com todas as dúvidas sobre os termos igualdade e equidade, vamos mostrar neste artigo a diferença entre eles e também debater o impacto que as políticas públicas e iniciativas privadas exercem sobre a equidade no país.
O que são equidade e igualdade?
Para que seja possível entender a diferença entre essas duas palavras, é preciso saber o conceito de cada uma delas. Confira abaixo o significado de cada termo:
Igualdade
O conceito de igualdade parte da premissa de que todas as pessoas devem ter oportunidades iguais, independentemente de suas diferenças.
A igualdade se baseia no princípio da universalidade, que estabelece que devem ser aplicados a todos os indivíduos os mesmos direitos e deveres, sem distinção de raça, origem, crença, orientação sexual ou qualquer outro critério.
No conceito de igualdade, a ideia é que todos os indivíduos partem de um mesmo lugar e que, se os recursos oferecidos forem os mesmos a todos, as chances de desenvolvimento e crescimento serão as mesmas.
Equidade
Já o termo equidade está diretamente ligado ao conceito de justiça. Assim, a equidade reconhece que os indivíduos possuem realidades diferentes, e que oferecer oportunidades iguais a todos nem sempre é a melhor solução. Em vez disso, o ideal seria fornecer o que seja justo e proporcional de acordo com as particularidades de cada pessoa.
Em outras palavras, a equidade vai além da simples distribuição de recursos, pois reconhece que as pessoas têm contextos e necessidades distintas. Dessa forma, ela propõe um tratamento diferenciado que equilibre as condições para aqueles que estão em situações mais desvantajosas, permitindo que todos possam atingir seu pleno potencial.
A figura abaixo ilustra a diferença entre equidade e igualdade, e como cada abordagem trata as necessidades individuais de maneira distinta:

Principais diferenças entre os conceitos
É possível perceber que, segundo o que determina a lei, a igualdade consiste na aplicação das mesmas regras e oportunidades a todos, mas ela deixa de levar em conta que, no decorrer da vida, as pessoas recebem recursos diferentes e possuem vivências distintas. Então, o que pode ser ideal para um indivíduo nem sempre é suficiente para outro.
E aí é que entra a equidade. Ela leva em consideração as desigualdades que são tão características de nossa sociedade, visa o ajuste do desequilíbrio e promove a distribuição adequada de recursos, nem sempre iguais, para que todos consigam alcançar sucesso em seus objetivos.
A diferença entre a igualdade e a equidade é que a primeira parte do fundamento de que todos devem ter as mesmas oportunidades, conforme estabelece o princípio da igualdade na Constituição de 1988, e a segunda oferece as ferramentas adequadas de acordo com as necessidades de cada um.
Exemplos práticos de equidade e igualdade no dia a dia
Vamos mostrar agora algumas situações que são bastante comuns em nossa sociedade e que, de acordo com os recursos ofertados, podem fazer uma diferença real na vida de quem não teve acesso às melhores oportunidades.
Na educação: acesso igualitário vs. adaptado
Desde bem cedo, é possível perceber a desigualdade que existe na sociedade, já que nem todas as pessoas têm acesso às mesmas condições de aprendizagem. Podemos começar com a diferença entre o ensino público e o particular.
Embora ambos desempenhem um papel essencial na formação dos estudantes, há diferenças nos recursos disponíveis entre as instituições públicas e privadas. Enquanto as escolas particulares, geralmente, contam com mais investimentos em infraestrutura e materiais didáticos, o ensino público atende um número maior de estudantes e enfrenta desafios distintos.
Um estudo realizado pelo IBGE no fim de 2021 constatou que, durante a pandemia de Covid-19, a quantidade de alunos sem aula e sem atividade pedagógica na rede pública foi quatro vezes maior do que na rede privada. Essa discrepância de recursos, por sua vez, pode afetar o acesso ao ensino superior, já que muitos estudantes da rede pública enfrentam dificuldades para se preparar adequadamente para vestibulares. Além disso, muitos ainda precisam conciliar os estudos com eventuais trabalhos. Tudo isso coloca determinadas pessoas em desvantagem na disputa por vagas em universidades.
Um ponto extremamente importante é a implementação do ensino adaptado, que atende estudantes com algum tipo de deficiência, como pessoas com transtorno do espectro autista ou com deficiência visual, auditiva ou física. . Da mesma forma, as cotas raciais ou socioeconômicas definidas pelo Governo Federal atuam para reduzir as desigualdades.
No ensino igualitário, há a crença de que todos devem receber as mesmas oportunidades, mas é preciso levar em conta que a capacidade de compreensão e as condições de aprendizado entre os indivíduos são diferentes. Com isso, fica possível perceber que oferecer as ferramentas adequadas a cada um é a única possibilidade de ter um ensino equitativo.
No mercado de trabalho: oportunidades iguais vs. personalizadas
Depois de passar por modelos de aprendizagem bastante desiguais, fica fácil perceber que nem todos partem da mesma linha de chegada na disputa do mercado de trabalho. A capacitação, infelizmente, não é igual em todos os níveis da sociedade.
E é a equidade que busca corrigir essas diferenças, já que oferecer vagas iguais para pessoas com realidades distintas não é a solução mais eficiente. Por isso, vagas personalizadas para pessoas colaboradoras de grupos sub-representados já são uma realidade dentro de muitas empresas.
A criação de cargos específicos que integrem pessoas de diferentes gêneros, raças, deficiências e orientações sexuais, assim como indivíduos migrantes e/ou em situação de vulnerabilidade é uma medida que pode concretizar a verdadeira equidade no mercado de trabalho.
Nas políticas públicas: igualdade de direitos e equidade de acesso
Se a desigualdade é uma questão social, econômica e política, são as iniciativas públicas que podem modificar esse quadro. É fundamental contar com o Estado como um agente que formula e executa ações para garantir o princípio da equidade, no qual os desiguais são tratados de acordo com suas carências.
O Governo Federal tem implementado medidas para promover maior equidade na sociedade.
Alguns exemplos disso são a instituição de cotas para pessoas com deficiências em universidades federais, a exigência de que os partidos políticos tenham em seu quadro de candidatos ao menos 30% de participação feminina e a opção do uso do nome social para travestis e transexuais.
Qual a importância da equidade e igualdade na sociedade?
Agora, vamos explorar de que forma a igualdade e a equidade podem transformar a sociedade, promovendo mais inclusão e justiça para diferentes grupos.
Benefícios para a construção de uma sociedade mais justa
A igualdade parte da premissa de que todos devem receber os mesmos recursos e oportunidades. Esse princípio, embora tenha intenção positiva, pode acabar ignorando diferenças estruturais que colocam certos grupos em desvantagem.
Por isso, a equidade tem como objetivo a redução da desigualdade e torna isso possível por meio de uma perspectiva que é capaz de interpretar os diferentes contextos de cada indivíduo, proporcionando assim o respeito à diversidade e estimulando a inclusão. Isso, por sua vez, permite construir um futuro melhor para todos.
Contribuição para reduzir as desigualdades estruturais
Por meio da oferta dos recursos necessários de forma individual, é possível combater e diminuir a desigualdade. Ajustar o desequilíbrio, considerando as particularidades e necessidades de cada pessoa, é o melhor caminho para que todos sejam capazes de alcançar um mesmo objetivo.
Com as ferramentas adequadas, a camada da população que é discriminada poderá desenvolver com sucesso suas habilidades, ter a sensação de pertencimento e ser respeitada, além de estar capacitada a ingressar no mercado de trabalho, o que possibilitará uma melhor qualidade de vida.
Como aplicar a equidade no cotidiano empresarial?
Neste tópico, vamos detalhar de que maneira a igualdade e a equidade devem estar presentes na nossa vida de forma rotineira.
Dicas práticas para indivíduos
Combater os hábitos negativos é primordial para contribuir para uma rotina mais harmoniosa e inclusiva. A empatia é necessária em todos os ambientes, e imaginar a dor do outro pode ser um exercício importante para evitar excessos e ofensas.
Estratégias para empresas e organizações
As empresas que almejam conquistar um ambiente de trabalho diverso devem trabalhar arduamente para identificar os pontos problemáticos e combatê-los com políticas de equidade para todas as pessoas colaboradoras.
A realização de treinamentos, palestras, eventos inclusivos e a promoção da convivência entre as pessoas colaboradoras são formas de dar lugar de fala a todos e estimular o respeito independentemente das diferenças. A equiparação de salários, sem distinção de gênero, raça ou outra característica, também é uma forma de reduzir as desigualdades.
A criação de cargos personalizados é um recurso que já vem sendo utilizado por diversas organizações. Mas, para que essas vagas sejam ocupadas e os profissionais tenham condições equitativas, é preciso oferecer a eles os recursos necessários para seu desenvolvimento e cumprimento de suas demandas.
O papel da educação na disseminação dos conceitos
Quando ficou entendido que fatores socioeconômicos são responsáveis por gerar desigualdades, algumas políticas públicas foram implementadas. As cotas raciais, socioeconômicas e destinadas a pessoas com deficiência no ingresso em instituições de ensino contribuem para a equidade.
De acordo com dados do IBGE, na pesquisa sobre Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, os estudantes que se declararam pretos ou pardos já representam mais de 50% do total de alunos matriculados em universidades federais. Esse percentual ainda possui grande potencial de crescimento, indicando uma transformação em relação à realidade de alguns anos atrás.
Qual o impacto de equidade e igualdade em políticas públicas?
Com a crescente compreensão sobre a importância da igualdade e da equidade na redução das desigualdades, a elaboração de políticas públicas que promovam a justiça social e ampliem o acesso a direitos para toda a população é fundamental.
Casos de sucesso no Brasil e no mundo
Uma empresa que promove a criação de vagas inclusivas e personalizadas é o Magazine Luiza. A ex-CEO do grupo, Luiza Helena Trajano, deu início a processos seletivos nos quais a diversidade era a palavra de ordem.
Com vagas específicas para mulheres, negros e pessoas com deficiência, a empresária criou soluções inclusivas que, mesmo após sua saída, continuam em vigor dentro da empresa.
Outro caso de sucesso dentro do país é o do Hospital Albert Einstein, que buscou a Toti Diversidade para promover uma formação profissionalizante em análise de dados para pessoas refugiadas e migrantes em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de fomentar a inclusão no mercado de trabalho e ampliar oportunidades para grupos historicamente sub-representados.
A iniciativa capacitou 30 novos profissionais com 168 horas de conteúdo, resultando na formação de 90% dos alunos. Após a conclusão do curso, o Hospital Albert Einstein contratou 13 desses formandos, promovendo maior diversidade e inclusão em suas instalações.
Desafios enfrentados na implementação de políticas equitativas
Mudanças nem sempre são bem aceitas, e, por isso, é altamente recomendável investir em educação e treinamento, que são sempre as melhores soluções para combater os preconceitos estruturais, a falta de conhecimento e a dificuldade na implementação de políticas equitativas.
Algumas práticas são necessárias para quem pretende combater a desigualdade, como a equiparação salarial, a adoção de boas práticas que contribuam para a transparência, o incentivo à diversidade e inclusão e o oferecimento de um ambiente corporativo harmonioso, onde todos se sintam parte do todo.