Outros exemplos de interseccionalidade
Exemplos de interseccionalidade:
- Pessoas com deficiência LGBTQIAP+: podem sofrer discriminação com base na orientação sexual e na condição física.
- Pessoas idosas LGBTQIAP+: podem ser alvos de preconceito por causa da idade e também da orientação sexual.
- Mulheres muçulmanas com deficiência: podem enfrentar discriminação em virtude de seu gênero, de sua condição física e de sua religião.
Quando pensamos em um indivíduo, podemos categorizá-lo de diversas formas. Peguemos como exemplo uma mulher negra, refugiada e com deficiência auditiva. Ela pode ser impactada ao sofrer discriminação por diversos fatores: ser mulher, ser negra, ser refugiada e ter deficiêcnia auditiva. Da mesma forma, um homem idoso, negro, nordestino e homossexual, pode sofrer discriminações em razão de sua raça, origem, idade e orientação sexual.
A interseccionalidade demonstra que as discriminações baseadas em raça, sexo, cultura, religião, etnia, deficiência, idade, classe social e orientação sexual são inter-relacionadas. Quando essas formas de discriminação se cruzam, criam um sistema de opressão ainda mais complexo.
Como surgiu o conceito de interseccionalidade?
O termo interseccionalidade foi apresentado pela primeira vez através da americana Kimberlé Crenshaw, por volta de 1989. Uma mulher negra que se formou com louvor nas universidades de Cornell, Harvard e Wisconsin.
Além de ativista de direitos civis, Crenshaw era uma profunda estudiosa da teoria crítica racial, que explica como o racismo é um movimento disseminado não somente por pessoas, mas também pelo sistema como um todo através de leis e instituições. Depois de analisar a situação de Emma DeGraffenreid, uma mulher negra que entrou na justiça contra uma fábrica por não ter conseguido um emprego justamente por ser mulher e negra, Crenshaw percebeu a complexidade do caso. O juiz negou seu pedido, dizendo que haviam trabalhadores negros e mulheres trabalhando lá. Ele só não contava que todos os negros eram homens, empregados em áreas de manutenção, e todas as mulheres eram brancas e ficavam dentro do escritório. Foi então que surgiu o termo interseccionalidade, pois Emma sofria preconceito por ser mulher (machismo) e por ser negra (racismo) interseccionalizando as duas características minoritárias.
Crenshaw demonstrou que, apesar da aprovação da Lei dos Direitos Civis em 1965, o racismo não deixou de existir, e que ele era demonstrado em relações de poder e origens socioeconômicas.
Com base nos estudos de Crenshaw, em 2015, o conceito de interseccionalidade foi adotado pelo Oxford English Dictionary e começou a ganhar força em diversos países ao redor do mundo.
Por que a interseccionalidade é importante?
A presença de discussões sobre a interseccionalidade é de extrema importância para nossa sociedade, já que através desse tipo de cuidado é possível promover igualdade e inclusão social para grupos que sofrem qualquer tipo de discriminação e se encontram privados ou diminuídos em relação aos seus direitos.
Seu conceito é amplo e engloba todos os tipos de pessoas que sofrem qualquer tipo de opressão em razão da sua diversidade, e o quanto isso pode impactar suas vidas. É fundamental reconhecer que os indivíduos possuem múltiplas características e identidades, e que essa sobreposição deve ser aceita para melhor compreensão dos seus direitos enquanto cidadãos.
Qual a importância da interseccionalidade nas empresas?
Agora que já foi explicado o conceito de interseccionalidade, será ainda mais fácil a compreensão do seu importante papel no ambiente corporativo. É fundamental que a liderança assuma um posicionamento no qual direitos iguais não sejam considerados favores, mas sim um tratamento justo, independente de origem, idade, raça, religião, orientação sexual, entre outras características.
O cuidado com as minorias deve ser pautado no respeito, e a opressão sofrida deve ser combatida com rigor, já que não é possível aceitar que a interseccionalidade seja a causa da falta de oportunidades justas para todos ou mesmo impedimentos para o crescimento e desenvolvimento profissional. Uma empresa deve acolher seus funcionários e garantir que não sofram opressões.
Como ela influencia na contratação e retenção de talentos de uma empresa?
A criação do termo interseccionalidade trouxe maior visibilidade para pessoas de grupos minorizados. Com o surgimento de novas oportunidades, como as que são direcionadas para refugiados ou mães solteiras, por exemplo, esses grupos passam a ter mais chances e, com isso, conseguem desenvolver seu potencial e mostrar sua capacidade. As empresas têm muito a ganhar com a diversidade, já que está provado que grupos heterogêneos são capazes de oferecer mais, pessoal e profissionalmente, criando um ambiente corporativo mais rico e plural.
Quando uma empresa se propõe a abordar o conceito de interseccionalidade e é inclusiva, as pessoas colaboradoras tendem a ficar mais satisfeitas e seguras no local de trabalho e, assim, permanecer mais tempo nos seus empregos, diminuindo a taxa de turnover. Além disso, a empresa atrai talentos que se identificam com os valores da empresa. Há melhoria no employer branding e valorização da diversidade.
O que é interseccionalidade no trabalho?
Há algum tempo, as criações de vagas passaram a apresentar especificidades que antes não eram contempladas no mercado de trabalho: vagas para pessoas com deficiência, para negros, para refugiados, treinamentos e estágios exclusivos para indivíduos LGBTQIAP+ e cargos para mulheres com ou sem filhos.
Esses procedimentos trabalham para formação de uma sociedade inclusiva e um ambiente corporativo diverso, aberto a minorias que sofrem constante opressão. Trabalhar para incluir e acolher grupos que sofrem discriminação deve ser percebido não apenas como uma obrigação, mas também como uma vantagem estratégica já que a diversidade enriquece as organizações com diferentes perspectivas e experiências.
E quais são as consequências de ignorar o tema?
Quando a organização não aborda o conceito de interseccionalidade e não pratica ações de inclusão, um dos principais problemas que ocorre é a saída de funcionários, que, inclusive, pode não ser voluntária.
Natália Públio, cofundadora da Mezcla Diversidade, explica que contratar pessoas de grupos minorizados apenas para aumentar a diversidade, sem trabalhar o sentimento de inclusão, negligenciando questões como machismo, racismo, homofobia e xenofobia tende a gerar um ambiente com baixo engajamento e retenção desses talentos.
“Por isso, com a mesma velocidade que essas pessoas entram, elas saem. E não é por vontade delas. Muitas vezes, elas são expulsas pelos próprios processos da companhia. Há estudos que demonstram que pessoas de grupo sub-representados, principalmente quando são lideradas pelo perfil mais hegemônico, recebem menos feedbacks”, alerta.
Como a interseccionalidade se aplica na prática?
Temos que agir de forma interseccional e tornar isso uma prática constante dentro e fora do ambiente de trabalho. Mas como podemos iniciar esse processo? Veremos abaixo atitudes que podem facilitar a incorporação do conceito de interseccionalidade na sua empresa:
Identifique e reconheça a diferença
Entenda que cada colaborador é único, com características individuais que enriquecem o ambiente corporativo. É fundamental reconhecer e valorizar essas diferenças, pois há pessoas cujas identidades são sobrepostas, enfrentando múltiplas formas de opressão na sociedade e no trabalho. Evite contribuir para essa marginalização.
Analise pontos de vista diversos
Esteja atento ao que as pessoas que são oprimidas têm a dizer e seja empático. Cabe a quem sofre qualquer tipo de discriminação explicar as próprias dores e a quem ouve ser solidário e se posicionar da forma correta. Analise o que diferentes pessoas falam e o que contam de suas vivências. Esse processo é fundamental para entendermos melhor o que afeta as minorias.
Corrija sua comunicação interpessoal
Muitas pessoas se sentem incomodadas por serem chamadas por seus pronomes biológicos ou seus nomes oficiais. Corrija isso perguntando à pessoa como ela gostaria de ser chamada, caso tenha qualquer dúvida. Isso demonstra respeito e aceitação.
Mostre seu comprometimento
Não é possível tratar de diversidade sem apoiar a causa das minorias. Compreender a dor do outro e se colocar no lugar de quem sofre é uma atitude necessária. Tenha empatia e seja para as pessoas o que elas precisam, não apenas o que você acha que basta ou o que considera melhor para cada um. Ninguém sente a dor de outra pessoa como sua. Respeite.
Quais são os desafios para a interseccionalidade?
Para que a interseccionalidade seja palpável e realmente efetiva dentro da sua vida, ambiente de trabalho ou sociedade é preciso ser um agente transformador. Aceitar e celebrar a diversidade é o primeiro passo para reduzir a opressão às minorias. Além disso, acreditar de fato que ambientes heterogêneos trazem mais riqueza e compreensão é fundamental.
O empoderamento de mulheres, negros e pessoas LGBTQIAP+ é um bom começo. Aceitar que os filhos existem e que as pessoas precisam cuidar deles sem perder o profissionalismo é outro passo importante. Reconhecer que a etnia ou raça de uma pessoa nunca poderão depor contra ela, e sim agregar novas possibilidades culturais e enriquecer ainda mais a convivência, a troca de ideias e informações.
Divulgar de forma massiva o a importância da interseccionalidade é a atitude mais correta e esperada para líderes e gestores que realmente se preocupam com o ambiente da sua empresa e pretendem construir um mundo mais equitativo, como menos sofrimentos, menos discriminação e mais chances para as diversas camadas da população, independente de onde nasceram ou estudaram.
É imperativo que, em um cenário corporativo, a interseccionalidade seja respeitada e compreendida. Que as chances sejam iguais para todos, e que essa boa prática seja disseminada e ensinada, para que todos compreendam sua importância e quão melhor pode ser um mundo onde todos possam ter as mesmas possibilidades, de forma a aplicar a justiça social.
Como a Toti Diversidade pode ajudar sua empresa a compreender a interseccionalidade e praticar a inclusão?
Para que sua empresa seja um ambiente composto pelos mais diversos perfis, e ainda assim acolhedor, muitas vezes é preciso criar um comitê de diversidade que oriente o comportamento esperado de colaboradores de todos os níveis e funções e implemente ações de inclusão.
A Toti Diversidade possui os recursos ideais para facilitar sua missão, e, assim, disponibiliza um dossiê modelo de Comitê de Diversidade, adaptável às necessidades específicas de sua organização.
Nós da Toti Diversidade também estamos prontos para ajudar seus colaboradores a lidar com o assunto através de um serviço de palestras sobre interseccionalidade, que aborda todas as questões referentes ao tema.