Como evitar a apropriação cultural: práticas responsáveis para marcas e indivíduos

21/04/2025
• Atualizado em 17/04/2025
Homem sentado à mesa, vestindo uma blusa com a logo da TOTI
Marcas éticas e pessoas conscientes têm o dever de combater a apropriação cultural

 

Com o crescimento das conexões globais, é cada vez mais comum o contato entre diferentes culturas. No entanto, nem toda troca acontece de forma respeitosa — e, em muitos casos, pode configurar apropriação cultural.

Esse fenômeno, por sua vez, ocorre quando elementos culturais são usados fora de contexto, sem compreensão ou reconhecimento, especialmente por grupos que não vivenciam as experiências associadas àquela cultura. 

Apesar de polêmico, esse é um tema que exige responsabilidade. Entender o que é apropriação cultural e como evitá-la é fundamental para promover respeito, inclusão e equidade — tanto no dia a dia quanto na atuação de organizações.

Neste artigo, vamos explicar o conceito, os impactos dessa prática e como adotar posturas mais conscientes e colaborativas ao se relacionar com culturas diversas. Acompanhe!

O que é apropriação cultural?

Apropriação cultural é quando uma pessoa, grupo ou marca utiliza elementos de uma cultura que não é a sua — especialmente de culturas historicamente marginalizadas — fora de seu contexto original e sem respeitar seu significado ou sua origem.

Isso pode acontecer de várias formas: ao adotar símbolos religiosos como acessórios, usar vestimentas tradicionais como fantasia, ou ainda lucrar com expressões culturais sem envolver as pessoas que as criaram.

Mais do que uma simples troca entre culturas, esse tipo de ação carrega uma relação de poder.

Em geral, quem se apropria pertence a um grupo que ocupa uma posição privilegiada na sociedade, enquanto quem tem sua cultura apropriada faz parte de uma população historicamente oprimida.

O problema não está no interesse por outras culturas, mas sim na forma como isso acontece — sem reconhecimento, sem diálogo com seus representantes, e, muitas vezes, com desrespeito.

Esse esvaziamento de sentido pode transformar manifestações culturais importantes em meros produtos de consumo.

Um turbante, por exemplo, pode representar ancestralidade e resistência para muitas pessoas negras, mas acaba virando apenas um “acessório estiloso” quando usado sem contexto por quem não compartilha dessa vivência.

Também é importante entender que apropriação cultural não se trata de proibir o contato entre culturas, e sim de promover responsabilidade, respeito e valorização. Há uma diferença significativa entre apreciar e se apropriar.

A apreciação envolve diálogo, valorização e reconhecimento. Já a apropriação ignora essas etapas e reproduz desigualdades, mesmo quando não há essa intenção.

Quais são os impactos da apropriação cultural?

A apropriação cultural não é apenas uma questão de estilo, moda ou curiosidade. Suas consequências são profundas e atingem tanto as comunidades originárias quanto a forma como marcas e indivíduos são percebidos socialmente.

Entender esses impactos é essencial para adotar práticas mais conscientes e respeitosas no cotidiano e no ambiente profissional.

Por isso, confira a seguir os impactos que a apropriação cultural gera tanto para a comunidade afetada quanto para a marca que utiliza essa prática.

Consequências para as comunidades originárias

Quando elementos de uma cultura são utilizados fora de contexto, sem diálogo e sem reconhecimento, há um enfraquecimento simbólico que atinge diretamente quem pertence àquela cultura.

Práticas, objetos, tradições e saberes que carregam histórias de luta, espiritualidade e resistência acabam sendo transformados em modismos, o que contribui para a invisibilização e a desvalorização de seus significados originais.

Além disso, a apropriação cultural pode gerar sentimentos de dor, desrespeito e exclusão. Muitos desses elementos, antes marginalizados, são valorizados apenas quando utilizados por pessoas de fora da comunidade, o que reforça estigmas e desigualdades históricas.

Por exemplo: cabelos trançados, ritmos musicais ou expressões linguísticas que antes eram alvo de preconceito passam a ser exaltados quando associados a pessoas brancas ou famosas, enquanto as pessoas que os originaram continuam sendo discriminadas.

Essa lógica perpetua o silenciamento de grupos que já enfrentam múltiplas barreiras sociais, raciais e econômicas. É como se dissessem: “Sua cultura é bem-vinda, mas você não.”.

Efeitos na percepção pública e na imagem de marcas

Para as marcas, a apropriação cultural pode ser um risco sério à reputação. Em um cenário em que consumidores estão cada vez mais atentos a práticas éticas e à responsabilidade social corporativa, ações mal planejadas podem gerar reações negativas, críticas públicas e boicotes.

O uso irresponsável de símbolos culturais em campanhas, produtos ou eventos pode passar a imagem de desinformação, oportunismo ou insensibilidade.

Mesmo quando a intenção é boa, a ausência de diálogo com as comunidades envolvidas pode causar danos à confiança que o público deposita na marca.

Por outro lado, quando há parceria e valorização genuína das culturas representadas, é possível criar conexões autênticas e duradouras.

Dessa forma, é possível não apenas fortalecer a imagem institucional, mas também contribuir para uma sociedade mais justa e respeitosa.

Como evitar a apropriação cultural e adotar práticas responsáveis?

Evitar a apropriação cultural exige atenção e disposição para aprender continuamente. O caminho está em reconhecer os limites da própria vivência e agir com responsabilidade ao se aproximar de culturas que não são nossas.

A seguir, apresentamos algumas práticas fundamentais para indivíduos e marcas que desejam construir relações mais éticas, respeitosas e inclusivas com outras culturas.

Pesquisa e compreensão profunda

Antes de adotar qualquer elemento cultural — seja em uma peça de roupa, seja em uma campanha publicitária ou em uma linguagem visual — é essencial pesquisar sua origem, significado e contexto.

É importante compreender não só “o que é”, mas também “o que representa” para o povo ou grupo de onde veio.

Essa busca vai além de uma pesquisa rápida na internet. Envolve conhecer a história daquele símbolo, suas raízes espirituais, políticas ou sociais e os possíveis impactos de seu uso fora de contexto.

Quando falta esse entendimento, o risco de reproduzir estereótipos ou esvaziar significados culturais é muito maior.

Colaboração e inclusão cultural

Outro passo fundamental é incluir pessoas que fazem parte da cultura representada para construir ações verdadeiramente respeitosas.

Para isso, a empresa deve abrir espaço para que essas pessoas participem da criação, da tomada de decisões e da narrativa em torno de suas próprias culturas. Isso pode se traduzir em parcerias com artistas, consultores ou comunidades locais.

Mas atenção: a colaboração precisa ser real — com reconhecimento e compensação justa. Assim, a marca fortalece a autenticidade das iniciativas e ajuda a valorizar as culturas envolvidas de forma legítima.

Consultoria com especialistas e comunidades

Nem sempre conseguimos perceber, sozinhos, os limites entre apreciação e apropriação cultural. Por isso, contar com a opinião de quem tem vivência no tema é uma forma de evitar equívocos e aprender de forma mais profunda.

A consultoria com pessoas especialistas, lideranças comunitárias ou representantes de movimentos culturais pode orientar sobre o que é adequado, o que precisa ser adaptado e como fazer isso com responsabilidade.

Esse diálogo com especialistas é, inclusive, uma prática de respeito e valorização da diversidade de saberes.

Educação e sensibilização contínua

A transformação acontece no dia a dia. Por esse motivo, é fundamental investir em educação e sensibilização constante, tanto em ambientes corporativos quanto na vida pessoal.

Treinamentos sobre diversidade cultural, conversas abertas e acesso a conteúdos educativos são formas de ampliar a consciência coletiva.

Além disso, é importante entender que aprender sobre culturas diferentes exige humildade. Errar faz parte do processo, mas é essencial reconhecer os erros, reparar os danos sempre que possível e seguir aprendendo.

A busca por práticas mais éticas e inclusivas é um compromisso contínuo, e quanto mais pessoas estiverem envolvidas, maior será o impacto positivo.

Quais são os benefícios de práticas culturais responsáveis?

Adotar uma postura respeitosa e consciente em relação a culturas diversas não é apenas uma questão de ética, é também uma estratégia poderosa para gerar impacto positivo, fortalecer vínculos e promover transformações reais.

Quando marcas e pessoas se comprometem com práticas culturais responsáveis, toda a sociedade sai ganhando. Confira a seguir os principais benefícios de uma marca estar atenta a esse assunto.

Fortalecimento da reputação da marca

Empresas que se posicionam com responsabilidade cultural transmitem valores como respeito, empatia e comprometimento social.

Isso gera confiança, atrai públicos diversos e diferencia a marca no mercado, especialmente em um cenário em que consumidores estão mais atentos à coerência entre discurso e prática.

Uma marca que respeita e valoriza diferentes culturas mostra que está conectada com as pautas do presente e preocupada com o futuro. Além disso, evita crises de imagem e constrói relacionamentos mais sólidos com seus públicos internos e externos.

Promoção da diversidade e inclusão

Mais do que evitar erros, as práticas responsáveis contribuem ativamente para a valorização da diversidade.

Na prática, esse objetivo é alcançado ao abrir espaço para perspectivas diversas, fortalecer o protagonismo de comunidades historicamente marginalizadas e combater estereótipos que ainda são reproduzidos em vários espaços sociais.

No ambiente corporativo, por exemplo, a inclusão cultural pode estar presente em ações de recrutamento, desenvolvimento de produtos, campanhas de comunicação e até na escolha de fornecedores.

Esses movimentos, quando genuínos, criam ambientes mais acolhedores, inovadores e representativos.

Qual é o próximo passo?

Promover o respeito às culturas diversas é uma escolha consciente que começa com informação, passa pelo diálogo com as comunidades envolvidas e se concretiza em ações éticas e colaborativas.

Ao evitarmos a apropriação cultural, não apenas deixamos de reforçar desigualdades históricas, mas também contribuímos para a valorização real das experiências, saberes e tradições de comunidades frequentemente invisibilizadas.

Para as marcas, esse compromisso se reflete em reputação, autenticidade e conexão com públicos diversos. Para as pessoas, é uma forma de praticar empatia e construir relações mais humanas e justas.

Quer dar o próximo passo em direção a uma cultura organizacional mais inclusiva?

Leia o conteúdo “Como funciona um comitê de diversidade: passos para implementá-lo com sucesso” e descubra, de forma prática, como estruturar um espaço seguro e estratégico dentro da sua empresa para fortalecer um ambiente mais ético e inclusivo. 

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